quarta-feira, 14 de março de 2012

08/03/2012 | N° 12513

DIA DA MULHER

Uma nova velha mulher

A história da mulher é a história de todas as mulheres

Sou uma mulher de 50. Para minha avó, que nunca exerceu atividade laboral, era semi-analfabeta e pariu 18 filhos, os 50 anos significavam o ingresso na velhice, início da decrepitude e proximidade da morte. Minha mãe viveu quase todos os seus 69 anos em Blumenau, esquivou-se dos filhos indesejados sem muita orientação, trocou leite materno por leite em lata, foi para a fábrica aos 14 anos, estudou pouco, mas exigiu igualdade na administração do lar no início dos anos 1960.

Em pouco tempo mudamos muito e, nos mudando, mudamos o mundo. A emancipação das mulheres blumenauenses foi forjada ao som de máquinas industriais, na dobradura de roupas recém-costuradas para o mundo. Nossas mães buscaram independência financeira para depois libertarem suas filhas, com educação, informação, autonomia e independência econômica, sexual e afetiva.

Desde a publicação do Segundo Sexo (em 1949), quando Simone de Beauvoir deixou claro que a noção de feminilidade foi inventada pelos homens com a intenção de auto-limitar as mulheres, as relações sociais mudaram. As mulheres empreenderam, libertaram-se do jugo do homem-proprietário e buscaram o homem-parceiro, ainda sem jeito e treino para esta nova dança. As blumenauenses mudaram todas, não só as de 20 e 30, como também as de 50 e 60 anos. Chefiam empresas, famílias e trânsito, estão mais bonitas, cuidadas, centradas.

Porém, quase 60 anos depois de Beauvoir iniciar o feminismo, nossas mulheres ainda são vítimas da violência familiar, assassinadas em nome do “amor”. Recebem salário menor para cargos de igual importância, são julgadas e condenadas por suas roupas, seu desejo, sua orientação sexual. Estas novas mulheres vivem sete anos a mais que os homens, mas ainda morrem em mesas de aborto clandestino.

As blumenauenses, como as demais mulheres, buscam um mundo melhor, igualitário, respeitoso, onde não existam príncipes encantados. Apesar de sermos lembradas nacionalmente pela beleza das Fischer e Budag, conquistamos o respeito e reconhecimento com as Frank, Hess de Sousa e Lima, ocupando com técnica e capacidade, espaços antes masculinos.

Entretanto temos ainda grandes desafios em nossas agendas: enfrentar a crescente medicalização e mercantilização dos nossos corpos, deixarmos de nos mutilar com cirurgias plásticas estéticas em busca de um corpo idealizado que mostra nossa baixa auto-estima. Não nos submeter ao ideal de beleza imposto, assegurarmos igualdade, respeito.

Sou uma mulher de 50. Diferente de minha avó, sempre trabalhei, estudei, me especializei, escrevi livros, pari três filhos, divorciei duas vezes. Os 50 anos significam a continuidade de desafios, de completude e plenitude da vida que pulsa e exubera.

Rosane Magaly Martins, escritora, advogada e gerontóloga

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